Ser Pai e a importância do “novo” pai



Gostaria de dedicar este artigo ao meu marido, companheiro da viagem, amigo e pai dos meus filhos. Ele tal como muitos pais hoje em dia, teve de ficar em casa em teletrabalho com os nossos filhos enquanto eu continuo a trabalhar por ser profissional de saúde e não poder ser eu a ficar. Este cenário, e não foi assim há tantos anos atrás, seria impensável. Generalizando, um pai antigamente tinha a função principal de providenciar a família, dar carinho e amar, muitas vezes, foi trabalhar por turnos, trabalhar fora do país e fazer uma série de sacrifícios para dar o melhor aos filhos, o que em muitos casos, era dar conforto numa casa, roupa, alimentação, brinquedos e por vezes a possibilidade de poderem frequentarem a faculdade, algo muito valorizado por várias gerações, que desejavam muito que os filhos tivessem uma vida melhor que a deles.
Hoje em dia um pai, fica com os filhos em casa, troca fraldas, brinca com eles, implica-se na educação, cozinha, limpa, cuida, etc, funções muitas vezes atribuídas só às mulheres, quer elas trabalhassem ou não. Os pais de hoje estão envolvidos desde cedo na relação com o seu bebé (Lamb, Pleck, & Levine, 1985; Yeung, Sandberg, Davis-Kean, & Hofferth, 2001) e desempenham um papel importante no desenvolvimento infantil (Cabrera, Fagan, Wight, & Schadler, 2011). O maior envolvimento do pai está associado a maior competência cognitiva das crianças (Shannon, Tamis-LeMonda, London, & Cabrera, 2002), menos problemas comportamentais e melhor saúde mental (Amato & Rivera, 1999; Coley & Medeiros, 2007; Harris, Furstenberg, & Marmer, 1998). Embora a pesquisa sobre pais tenha aumentado, ainda está muito atrás da pesquisa sobre a relação mãe-filho (Goeke-Morey & Cummings, 2007; Lamb, 2013).

Durante décadas, psicólogos e outros investigadores presumiram que o vínculo mãe-filho era o mais importante na vida de uma criança e muitas vezes a culpa ou o reconhecimento de como esse filho se desenvolvia era atribuída a essa relação. Nas últimas décadas, porém, os cientistas têm vindo a perceber cada vez mais o quanto o pai é importante. Assim como na mulher, o corpo do pai tem uma resposta à paternidade, e a sua forma de se relacionar com os filhos pode ter um contributo tanto quanto, às vezes mais, do que o da mãe.


O pai desempenha um papel crucial. O amor paternal ajuda as crianças a desenvolverem um sentido de qual o seu lugar no mundo, o que ajuda no seu desenvolvimento social, emocional e cognitivo. O tipo de pai que um filho tem quando é pequeno, irá influenciá-lo até a vida adulta. Os filhos precisam de relacionamentos próximos e estáveis ​​com ambos os pais. Existe mais estabilidade emocional quando o pai passa tempo com o filho e interage com ele de maneira positiva. O pai partilha a responsabilidade e o prazer no desenvolvimento dos seus filhos por meio de brincadeiras, sendo um bom modelo, afetuoso e comprometido. Mesmo que não seja o pai biológico de uma criança nesse papel, ser uma figura paterna que lhes dá amor, apoio e envolvimento beneficiará a criança.


Um estudo muito interessante conduzido pelo Instituto Nacional de Saúde Infantil e Desenvolvimento Humano (NICHD) descobriu que os pais tendiam a envolver-se mais nos cuidados com os filhos quando: eles trabalhavam menos horas do que outros pais; eles tinham características de ajustamento psicológico positivas (por exemplo, auto-estima elevada, níveis mais baixos de depressão e hostilidade e lidavam bem com as principais tarefas da idade adulta); as mães trabalhavam mais horas do que outras mães; as mães relataram maior intimidade conjugal; e quando as crianças eram do género masculino. Realço aqui a importância da qualidade da relação de casal no envolvimento dos pais com os filhos.


Um homem que descobre que vai ser pai, e ser pai e ser mãe na verdade começa logo na gravidez, pode sentir-se feliz e emocionado, mas também pode sentir-se assustado. Muitos futuros pais sentem-se confusos e preocupados, por exemplo, com o sustento da sua família, como vai equilibrar a sua vida profissional, social, agora que passa a ser cuidador de um bebé, e como vai ser o melhor pai que pode ser - especialmente se gostaria de fazer coisas diferentes de seu próprio pai.


Nos tempos que correm e com tudo o que já sabemos da importância e da nova implicação do pai de hoje, ainda existe, uma desvalorização, ou pelo menos uma não valorização, dos seus sentimentos, pensamentos e do seu papel. A mulher fica no centro das atenções - como é natural - com a sua gravidez visível e o pai fica num segundo plano. O pai tendencialmente não tira dúvidas sobre os cuidados a ter com um bebé, não discute necessidades pessoais e não partilha sentimentos de forma clara. Se a vida desafia este momento e existe algum problema de saúde ou mesmo uma perda do bebé, a mãe fica no foco das atenções e preocupações e com o pai por vezes não se tem o mesmo cuidado, existindo uma dificuldade da sociedade em geral em assumir o sofrimento de ambos, partilhado de formas diferentes com certeza, mas com muita intensidade e importância para ambos.


Vejo muito isso nas gravidezes que podem ser mais desafiantes, e mesmo nas perdas gestacionais, em que se realizam menos trabalhos de intervenção terapêutica com o pai. Da minha experiência, o casal deve ser sempre apoiado e não só a mulher. E por vezes, o homem também pode precisar de espaço para si e, nesse caso, deve pedir ajuda profissional.


Por fim, deixo algumas dicas: (1) Passe tempo com o seu filho, o tempo é algo precioso e, como se costuma dizer (e é verdade), o tempo passa rápido, eles num instante estão crescidos; (2) a disciplina, as regras, o funcionamento das coisas - bem definido ou pelo menos claro - mas com flexibilidade, amor e respeito, são fundamentais para o bem-estar do seu filho; (3) seja um modelo para o seu filho, lembre-se que as suas escolhas, a sua forma de se relacionar, de ser, de viver, são observadas pelo seu filho, mostrar respeito, humildade, honestidade e responsabilidade são pilares; (4) ganhe o direito de ser ouvido, ouvindo desde cedo o seu filho, as suas preocupações, dúvidas, sonhos; (5) coma em família sempre que puder, é um momento importante de partilha e de estarem juntos; (6) leia para o seu filho desde cedo, é uma forma de incentivo ao gosto pela leitura; (7) respeite a mãe do seu filho, os pais que se respeitam providenciam um ambiente familiar mais seguro; (8) procure o envolvimento com o seu filho desde o início, desde a gravidez. Pode ler mais ao pormenor estas sugestões neste artigo.


Ser Pai é um desafio gigante e ser pai é tão importante como ser mãe e, como tudo na vida, não podemos recear quando os desafios são enormes, porque, como alguém de quem gosto muito costuma dizer, “mais é mais em tudo”, mais preocupações, mais tarefas, mais receios, mas também mais felicidades, mais diversão, mais oportunidades, mais amor.


Feliz dia do Pai!
*Artigo publicado na Revista Relações em 16/03/2021

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Onde está a luz neste Natal?

A capacidade e a possibilidade do Amor no Casamento